8/20/2010

Diário do Pará: Nas ruas, a receita para triturar pessoas

Os motoristas de Belém estão à beira de um ataque de nervos. Tanto é que, segundo o Sindicato dos Rodoviários de Belém, somente no ano passado, cerca de 350 profissionais se afastaram de seus postos por estresse. “É praticamente como se todo dia um motorista se afastasse”, diz o vice-presidente do sindicato, Edilberto Robson. Durante o tempo que ficam sem trabalhar, alguns motoristas procuram tratamento, outros têm a carteira retida pela medicação pesada que passam a tomar e ainda há aqueles que nunca mais voltam à direção.

Não precisa pensar muito para descobrir quais os fatores que influenciam no estado emocional desses trabalhadores. Trânsito cada vez mais caótico, assaltos em maior número, mais violência, vandalismos, pressão por parte das empresas pelo cumprimento de horários e, de quebra, o nervosismo dos passageiros, que muitas vezes descontam no motorista o sofrimento pela lotação e longa espera nas paradas de ônibus. O resultado disso? Muitos profissionais acabam não suportando a rotina sacrificante nas ruas.

Com apenas 34 anos, Edvagner Silva já não vê a hora de se aposentar. Há dois anos na profissão, o motorista que opera na linha Guamá-Pátio Belém disse que não consegue dormir à noite, pensando no dia de trabalho que terá no dia seguinte. Em média, a pressão arterial do trabalhador é de 18 por 10, considerada bem acima do normal. “Tudo me estressa e me tira do sério. Ninguém aguenta mais o trânsito dessa cidade. Só não saio dessa vida porque tenho uma filha para sustentar”, desabafa.

Além do estresse no trânsito, o motorista coleciona marcas da violência no corpo e diz ter perdido a conta de quantas vezes já foi assaltado dentro do ônibus em que dirigia. “Já foi com pau, pedra, revólver, faca... Levei um tiro na barriga só porque pedi para o bandido não levar minha habilitação. Quando ouço qualquer barulho fico desesperado, penso logo que é tiro”.

E ele não é único. Dados do Sindicato dos Rodoviários de Belém revelam que, por semana, acontece uma média de 12 a 15 assaltos nos coletivos. Por mês, eles chegam a 48 casos. Por ano, passam dos 500. “Este ano, entre cobradores e motoristas, já perdemos seis companheiros vítimas de assaltos”, contabiliza o vice-presidente do sindicato.

Há duas semanas os rodoviários fizeram um protesto após o assassinato do cobrador da linha 40 Horas-Ver-o-Peso, Alexandre Max. Em manifestação contra a insegurança, muitos cobradores e motoristas paralisaram suas atividades para acompanhar o velório do companheiro. Eles aproveitaram para denunciar o clima de medo e a violência que os atingem diariamente. (Diário do Pará)
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